segunda-feira, junho 14, 2010

Bons Guerreiros


"Ai de mim! Será que nasci para ver a ruína de meu povo e a destruição da cidade santa, deixando-me ficar sentado enquanto ela é entregue às mãos dos inimigos?"

                                                                                    Matias, sacerdote, pai de Judas Macabeu


"Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena"

                                                                                   Provérbios 24:10


A figura de um bom guerreiro é mais do que necessária para se travar um combate onde se pode sair vitorioso. Porém assim como todo e qualquer combate, há sempre ferimentos, perdas e outras consequências. No campo da guerra pela Verdade dentro de uma denominação cristã, tal fato não poderia ser diferente.

Os últimos problemas envolvendo a CGADB testemunham claramente a necessidade  de uma mudança drástica de rumo administrativo, moral e espiritual, pois como muito bem o irmão Daladier Lima, o problema vai "de Norte a Sul". Tal problema não se deriva de uma mera crise institucional, com uma falta administrativa. Correlaciona-se com uma falta de caráter e testemunho cristão, evidenciando-se assim, um forte despreparo moral de uma liderança (falo no sentido geral) muitas vezes não chamada para exercer a vocação pastoral. O resultado é a criação de uma estrutura administrativa raquítica espiritualmente e rica em frutos pecaminosos. A CGADB só chegou a este tipo de crise espiritual porque há uma crise ministerial, algo que provavelmente vá muito além de púlpitos exclusivamente assembleianos, porém que provavelmente mais tem afetado a saúde espiritual da Assembléia de Deus como denominação cristã.

Há inúmeros novos evangelistas, diáconos e pastores surgindo a cada momento em nossa denominação. Os princípios espirituais utilizados nesta seleção para a consagração são mínimos. Escolhe-se pessoas para serem líderes porque possuem um forte carisma natural e são excelentes em citar Malaquias 3:10 para conseguir uma excelente  quantia para aumentar o estacionamento e para a expansão do império ministerial, escolhem-se pessoas porque possuem grandes recursos financeiros para ajudarem na obra e a colocam em posição de destaque (muitas vezes isso não precisa nem mesmo de consagração) ou porque são protegidos por algum líder assim como o personagem Don Corleone nunca negava o pedido feitos por alguns de seus afilhados. Gutierres Siqueira faz uma importante observação:

"Liderança sem capacitação, sem talento e sem dons ministeriais abre espaço para, digamos, pessoas que alcançaram um ministério pastoral simplesmente por serem amigas do pastor presidente. É sério, isso existe e é muito grave. Gravíssimo por sinal, pois ordenar alguém sem dom paro o pastorado é irresponsabilidade e pecado. Outros pecados surgem quando gente talentosa (no sentido de chamada ao ministério) e capacitada não alcançam espaço. Exemplos não faltam: O nepotismo, o amiguismo, o fisiologismo etc." [1]

Possuo amigos que, como diáconos, são excelentes evangelistas e pastores, mas para alcançar esse grau na cadeia hierárquica, devem passar pelos "níveis menores" na sucessão eclesiástica. Quantas vezes inúmeros candidatos ao ministério foram "batizados no Espírito" porque se não preenchessem essa parte do questionário não seriam aceitos, e quantos candidatos com genuína vocação não são aceitos por não possuírem aquilo que Paulo suprime como qualidade necessária para o ingresso no ministério (1 Tm 3:1-13)?[2].

"Mas e daí?", alguém poderia objetar. "Não seria melhor nos preocuparmos com assuntos mais importantes, como a promoção do Evangelho para a salvação de almas do que com assuntos meramente políticos?", tal pergunta soa bastante espiritual a primeira vista e parece ser legitimamente genuína. Concordo que o assunto da salvação deve ser o centro da vida do trabalho de uma igreja. Todavia, será que realmente estaríamos preocupados com pessoas quando permitimos que mercenários teológicos estejam tratando de seus cuidados? Onde está o Evangelho e o testemunho cristão nisso tudo? Muitas vezes tais desculpas provém de alguém que pelo menos sabe que será frouxo no dia da angústia. 

Dentro desse problemático contexto, o que se pode fazer é agir como um soldado disposto a combater pelo bom combate (1 Tm 6:12), se tiver que escrever, que se escreva, o que se puder falar, que se fale, o que se puder agir, que se aja. Isso possa aparecer um tanto quanto arrogante, como se os que levantam-se contra isso quisessem dar a aparência de heróis entre vilões, de cordeiro em meio aos lobos. Porém a verdade é claramente expressa na frase de William Sherman, General americano: " A Guerra é o inferno"[3]. Nessa batalha não há heróis como no sentido secular, seres humanos num patamar que alcançam feitos inigualáveis e por isso são reverenciados com glória dos homens, por isso posso afirmar que não há vencedores no sentido comum. O que mais importa é a Verdade, a Causa de Cristo, o Nome do Senhor sendo glorificado, só assim podemos ser classificados como vencedores, sabemos que temos um compromisso com o Senhor da Seara.

As mudanças institucionais são necessárias. Tão necessário quanto isso, é permanecermos nesta luta, ainda que para isso, tenhamos que passar por desânimos, dificuldades e frustrações. Isso é o que constitui um bom guerreiro segundo Cristo e tão exemplificado na vida do apóstolo Paulo. Só assim realmente tamparemos a cova que muitos se dispuseram a cavar, mesmo que inocentes morram nela.

Soli Deo Gloria


Notas:

[1] Extraído do artigo "Cavando a própria cova" de Gutierres Siqueira, publicado em seu blog Teologia Pentecostal.

[2] Apesar de muitas vezes isso ser um assunto controverso, creio que outro artigo específico sobre este tema seria mais adequado do que aprofundá-lo aqui. Ainda que a Assembléia de Deus seja uma igreja pentecostal e que enfatize o batismo com o Espírito Santo, precisamos lembrar que o Senhor é soberano na distribuição dos dons e Ele concede o batismo. A Bíblia não aponta em nenhum lugar o batismo com o Espírito como selo divino de aprovação ou até mesmo qualificação para o ministério pastoral.

[3] Citado por MACARTHUR, John. A Guerra pela Verdade. Fiel: São Paulo, 2008.

    

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