sexta-feira, novembro 19, 2010

Berg e Vingren: O desafio começou há 100 anos

Navio Clement, navio que trouxe Berg e Vingren a Belém, em 19/11/1910


A bordo do navio Clement, vindo de Nova York, os dois jovens evangelistas possuíam apenas alguns pertences e muito pouco dinheiro. A viagem tinha sido longa, mas em breve eles pisariam no chão de seu campo missionário. Um dos maiores contratempos daqueles jovens é que não falavam a língua do povo no qual criam ter sido destinados no agir missionário. Só havia uma coisa que os poderia sustentar: a Providência do Deus Todo-Poderoso.

Passados cem anos, uma das coisas que mais me impressionam dos dois jovens é sua confiança em Deus e zelo no cumprimento de seu chamado. As dificuldades que enfrentaram há 100 anos não é muito diferente da enfrentada por todos os genuínamente chamados para missões de vanguarda, assim como certamente semelhante as dificuldades enfrentadas por missionários hoje, porém a natureza das tribulações por certo nos chama a atenção.


Berg e Vingren tinham de início apenas o auxílio mútuo e de alguns irmãos. Porém quando o choque com a 1º Igreja Batista ocorreu, poucos acreditavam que tais jovens alcançariam frutos tão excelentes a serviço da causa do mestre. Eles não haviam frequentado seminários de peso, nem tampouco passaram por cursos sobre crescimento de igreja, estratégias de evangelismo mescladas com pressupostos mercadológicos. Se Francis Schaffer escreveu que um cristão com a Bíblia na mão pode mostrar que a maioria está errada, me atrevo a afirmar que esses dois jovens, com a Bíblia na mão e o Evangelho no coração, mostram para muitos que podem fazer a diferença sem precisar de nenhum outro artíficio. Crendo apenas nos resultados vindos da ação do Santo Espírito no coração dos que herdariam a vida eterna.


As mais diversas explicações para o grande crescimento das Assembléias de Deus são importantes, porém insuficientes se negarem o pressuposto da ação divina sobre esses rapazes. Que colocaram o Brasil e o mundo de cabeça para baixo. Creio que o zelos que eles tinham por Cristo tem muito o que nos ensinar.




- O Zelo pela doutrina Bíblico-pentecostal:

Como já escrevi anteriormente, Berg e Vingren tinham uma mensagem essencialmente cristocêntrica¹, que era acompanhada do fogo pentecostal iniciado em Azuza em 1906. Eles jamais colocaram a experiência ou o testemunho pessoal acima das Escrituras². Hoje conseguimos ver muita coisa, porém pouco daquilo que um dia foi o Evangelho pregado por Berg e Vingren. Nossos púlpitos estão mais cheios de modismos, política e caciquismo do que da simplicidade dos pioneiros. Não se conclui com isso que estes eram isentos de erros, porém nada que sirva para tirar o brilho e dedicação dados às almas.




- A Confiança sem par dada a ação do Espírito Santo na pregação do Evangelho.


É lamentável ver a denominação iniciada por Vingren utilizando de estratégias carnais pra atrair incrédulos ao seu seio. Utiliza-se todo tipo de artíficio hoje em dia, depois coloca-se de forma ímpia o Nome de Deus para justificar tais atos e dar uma aparência espiritual a tais ações. Muitos pastores assembleianos querem ter o mesmos resultados obtidos por Berg, porém não possuem metade de seu caráter, integridade e unção para tais, são como Davi tentando utilizar a armadura de Saul. Esquecem da primeira frase que Berg utilizava no início de seu trabalho missionário: "Jesus Salva". O trabalho de Berg era pregar a Palavra de Deus pelo poder do Espírito Santo. Não há dúvidas que O mesmo Espírito Santo iria atrair os pecadores e salvá-los da condenação. O que temo hoje são muito líderes confiando em seu próprio braço e pedindo a benção de Deus, porém nem ao menos atentam para a sua vontade revelada. Não era essa a visão de Berg, por certo não deve ser essa a visão de uma liderança genuinamente pentecostal também.




Não afirmo contudo, que devemos simplesmente nos prender ao passado e muito menos deixar de mudar para melhor. O problema é que poucos atentam para o pentecostalismo de Berg e Vingren e buscam a herança espiritual deixadas por eles, poucos querem verdadeiramente seguir os seus passos, querendo ou não, o que há na cabeça de muitos oficiais eclesiásticos pentecostais é simplesmente: "O que aconteceu com Berg e Vingren foi muito bom, mas já passou; busquemos coisas novas". Essas "coisas novas" nada mais são do que estratégias políticas e carnais para aumentar o número de membros, o espaço do estacionamento e um grande dízimo para obras faraônicas. Não há dúvida que precisamos de Berg para ensinar o que é pentecoste.




Há mudanças que verdadeiramente devem ser feitas, como por exemplo uma importância na capacitação de obreiros indicados para o ministério pastoral, uma formação teológica profunda e ortodoxa, com instituições piedosas em vários lugares do Brasil uma reflexão maior sobre pneumatologia e governo eclesiástico à luz da palavra de Deus. Uma forma de diminuir a corrupção e pecados no ministério, dissipar o legalismo oriundo das trevas do legalismo ignorante.



Muito se fala em desafio do centenário, porém o maior desafio sem dúvida (pelo menos o maior) não é o centenário, pois este acontecerá dentro de poucos meses, e ficará na memória. O genuíno desafio começou há 100 anos, e este não podemos esquecer: sermos instrumentos para a transformação de vidas, pregando o evangelho, obedecendo ao Senhor e confiando na ação de seu Santo Espírito.


Soli Deo Gloria


Notas:

[1] Este artigo está disponível no blog, intitulado "Os 4 Jotas do Pentecostalismo".


[2] Fiz uma reflexão a partir do relato da viagem de Berg a uma Assembléia de Deus em Portugal. Este relato está no artigo "Seriam os pentecostais místicos?", no qual ele confrontou a ênfase em experiências acima da Palavra de Deus.

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