quarta-feira, janeiro 05, 2011

A eternidade não é vida eterna


"No princípio criou Deus os céus e a terra"... Ah, quanta maravilha e glória traz consigo o primeiro versículo do livro de Gênesis! É como um baú cheio de pedras preciosas, que a cada jóia retirada é preenchido com mais inúmeras riquezas. Com isso não digo que a Palavra de Deus se renova a cada manhã- como se ela sofresse variação-, e sim que quando se aprende algo dela, ainda há uma infinidade de riquezas para ser conhecida; como disse o salmista: "A toda perfeição vi limite, mas o teu mandamento é amplíssimo."[1]

Pois bem, queridos irmãos, irmãs e leitores em geral do GQL; oro para que Deus nos ensine muito mais acerca de Si mesmo através das Escrituras. Que este ano de 2011 seja marcado por uma coisa: o conhecimento de Deus. Que este seja o nosso objetivo a ser alcançado com todas as nossas forças (ou seria melhor dizer "a ser recebido pela graça de nosso Senhor"? Certifique-se de que as duas expressões estão corretas, pois uma não contradiz nem anula a outra). Por isso, começo este ano refletindo sobre "eternidade" (... bem que poderia ser sobre "vitória financeira", a fim de que possamos concluir as obras do centenário da Assembleia de Deus... rsrs, amo a minha igreja, mas não quero produzir um povo rico para este mundo e miserável para Deus).

"E o SENHOR Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal." (Gênesis 2.9)

"Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus."[2], diz o salmista Moisés. A eternidade de Deus é tão sublime e gloriosa! Nada neste mundo é eterno, porque todas as coisas foram criadas por Deus- todas as coisas tiveram um início. Até mesmo o "princípio"[3] do versículo "No princípio criou Deus os céus e a terra" teve o seu começo. Pois antes do santo Deus iniciar a Sua obra de criação não havia tempo. Portanto, "no princípio" não significa "quando Deus passou a existir" ou algo semelhante; e sim "quando Deus- O qual é de eternidade a eternidade- deu origem à realidade temporal". Ou seja, só é possível falar sobre "princípio, meio e fim" no âmbito das criaturas; pois até o próprio tempo foi criado por Deus- por isso que é impossível contar ou calcular há quanto tempo Deus existe.

Os dois primeiros capítulos de Gênesis (1-2.3) narram a criação e o dia em que o Senhor descansou de sua obra. E em tal narração, Moisés- inspirado pelo Espírito Santo- usa uma linguagem temporal (primeiro dia, segundo dia, e assim sucessivamente). Mas o versículo quatro do capítulo dois traz algo muito interessante: "Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o SENHOR Deus fez a terra e os céus." Observe que Moisés usa a expressão "no dia" para remeter àquilo que foi realizado por Deus em seis dias. Por quê? É simples: a Bíblia está ensinando a criação em duas perspectivas: na temporal- referente à realidade temporal e limitada da criatura- e na eterna- referente à realidade ilimitada e perfeita do Criador. Então, o que aconteceu em seis dias foi como se fosse um só dia para Deus- "Porque mil anos são aos teus olhos como o dia que ontem passou, e como a vigília da noite".[4]

A própria criação leva o homem a adorar a Deus por causa da Sua eternidade, lembrando- o que, diferentemente de seu Criador, ele é temporal: "E disse Deus: haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos"[5]. "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos"[6]! Glorifiquemos ao Deus eterno! Que não somente criou todas as coisas, mas que também as governa com a Sua eterna soberania.

Além disso tudo, Deus fez algo muito especial: faz brotar da terra uma árvore que era o centro de todas as outras do Éden- a árvore da vida (Gn 2.9). E por meio dela declara que Ele tem como propósito dar vida e vida em abundância- nada menos que a vida eterna- a Suas criaturas. Contemple que desde Gênesis a Bíblia já ensina acerca da vida eterna (quem acha que o Antigo Testamento está ultrapassado, é bom se arrepender!). Então, vejamos como obter (ou receber) e o que é a vida eterna:

Observe os fatos que se desenrolam no capítulo três de Gênesis: a mulher é enganada pela serpente e come do fruto proibido por Deus (vs.1-6); Adão é seduzido pelo pecado e cede (v.6); os olhos de ambos são abertos e não resta nada a contemplar em si mesmos- a não ser a miséria de seus pecados, a qual estava nua e patente aos santos olhos de Deus (v.7); e com uma tentativa louca de permanecer dignamente na presença de Deus, Adão e sua mulher se vestem de aventais feitos de folhas de figueira (v.7). Mas não importava o quanto Adão tentasse se fazer apresentável a Deus- ele e sua mulher estavam mortos. Pois não importa quão belo e perfumado esteja um cadáver externamente, ele ainda permanece podre e imprestável por dentro. E por ser perfeitamente santo e justo, Deus amaldiçoa a serpente, a mulher e Adão- como consequência do pecado (vs.14-19).

Agora atente para o fim do terceiro capítulo de Gênesis: "E fez o SENHOR Deus a Adão e sua mulher túnicas de peles e os vestiu."[7]- eis aqui o Evangelho. Este versículo ensina que só há uma maneira de Adão e seus descendentes andarem na presença de Deus de modo aceitável por Ele: se o próprio Deus os vestir para Si , com uma justiça alheia- justiça tal que é conquistada pelo sangue derramado do sacrifício realizado pelas mãos do próprio Deus ( para que houvessem as túnicas de peles, os animais teriam de ser sacrificados). Então, pecador, não ache que você conseguirá participar da vida vestindo uma justiça obtida por suas próprias mãos. Não... Se pensar assim, a sua loucura não será maior que a de Adão ao se vestir com folhas de figueira. Pelo contrário, é necessário abandonar toda e qualquer auto-justiça; para que você possa ser vestido com a perfeita justiça de Cristo Jesus- "o qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação"[8].

E em meio a tudo isso, o capítulo três finda com algo um tanto surpreendente: o majestoso Deus expulsa o homem do jardim do Éden; para que este não coma da sublime árvore da vida e viva eternamente (vs.22-24). A questão é "por quê?". Será que as atitudes de Adão saíram do controle do Criador e acabaram frustrando o Seu propósito em pôr aquela maravilhosa árvore no Éden, e, por medo do estado de sua criatura piorar, Deus o expulsa? É claro que não. Estamos falando sobre o único Deus verdadeiro e soberano- e não de um deus com boné e pirulhito na boca (imagem que vem à minha mente quando leio alguns psicólogos famosos escreverem sobre a solidão e fragilidade do deus deles). Vejamos, então, o porquê dessa expulsão:

Embora pareça estranho que Deus tenha privado Adão de ter comido da árvore da vida- pois se Deus sabe desde antes da fundação do mundo que o homem pecaria, por que, então, Ele pôs essa árvore no jardim?-, a explicação é muito simples: o objetivo de Deus em pôr a árvore no Éden e em expulsar Adão deste lugar é definir o que é a vida eterna e mostrar qual a razão da eternidade. A vida eterna é conhecer a Deus e desfrutar de Sua presença para sempre! ("E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste."[9]) É por isso que o ato de Deus expulsar Adão não foi uma ação de medo e frustração; e sim de misericórdia. Pois é inútil alguém viver a eternidade estando em pecado. É loucura! Na verdade- longe ser vida eterna-, viver eternamente morto em ofensas e pecados é morte eterna. É experimentar o próprio inferno![10]

Atente para isso com diligência, por favor. Você percebe o quanto é inútil ter uma vida cristã superficial? Não adianta querer ser salvo só porque você deseja ter um um lugar de descanso e paz; ou porque simplesmente você não quer queimar no inferno. A questão é "você deseja Deus?". Você o ama? Ele é o seu único tesouro ou Ele é o meio que você usa para conseguir o seu real desejo? Você gostaria de ir ao céu se Deus não estivesse lá? Bem, querido (a). Se Deus não é Deus em sua vida, arrependa-se de seus pecados e creia no Evangelho; porque você não possui nada e a sua vida cristã é falsa. Que possamos clamar juntamente com o salmista Asafe: "A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti"[11]. E dizer como o puritano Thomas Goodwin disse: "O céu para mim é inferno, sem Cristo"[12].

Graças a Deus pelas suas misericórdias! E pela Sua eterna soberania. Pois Ele efetuará o Seu eterno propósito de dar de comer da árvore da vida a todos os justificados em Jesus Cristo. Eis o que o Senhor diz:

"Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus." ( Apocalipse 2.7)


Que Deus nos perdoe.



Notas:
[1] Sl 119.96
[2] Sl 90.2
[3] Também podemos entender que o "princípio" do primeiro versículo de Gênesis não é simplesmente uma questão de início do tempo, e sim também, misteriosamente, que alude ao próprio Senhor Jesus Cristo. Pois "porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele." (Cl 1.16) e "E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus." (Ap 3.14). Espero escrever melhor sobre isso algum dia.
[4] Sl 90.4
[5] Gn 1.14
[6] Sl 19.1
[7] Gn 3.21
[8] Rm 4.25
[9] Jo 17.3
[10] É claro que o inferno é mais que estar separado de Deus por causa do pecado. O inferno é a santa e justa ira de Deus em ação.
[11] Sl 73.25
[12] Citado por John Piper em "Deus é o Evangelho".




Um comentário:

Carlos Eduardo Leite disse...

Parabéns por esse artigo. Você mostrou de forma clara o que existe por de trás dos primeiros capítulos de Gêneses e mostra claramente que desde o início tudo centra em Cristo e na Cruz. Mais uma vez parabéns e que Deus continue a te abençoar e te dar conhecimento.

Fique na Paz do Senhor!