sexta-feira, março 18, 2011

Aprendendo com o rei Davi (parte 2)



"Consumido por uma ardente e carnal paixão, Davi adulterara com Bate-Seba- a mulher de Urias. Ele havia conseguido o que desejara: possuía aquela linda mulher o mais próximo possível de si. E agora, já tendo a sua cobiça satisfeita, o rei libera Bate-Seba de sua presença.

"Passaram-se alguns dias desde aquele o qual foi um marco na vida do rei de Israel. Até que uma mensagem chega aos ouvidos de Davi: 'Senhor rei, Bate-Seba, mulher de teu servo Urias, pediu para informar ao senhor de que ela está grávida...'

"O rei não possuía motivo algum para reclamar de seu desempenho com a mulher de um de seus valentes- tudo havia acontecido conforme o planejado... Mas, agora, algo estava errado. Aquele desejo tão feroz e implacável, repentinamente, foi trocado por uma série de pensamentos. 'Por que fiz isso?'- eram as palavras vindas à mente de Davi. 'Agora tenho de apagar meus rastros... Preciso agir rápido!', continuava a sua auto-reflexão.

"O coração de Davi estava totalmente consumido. Não mais como antes (de desejo por Bate-Seba), e sim, agora, de pesar por seu pecado. Não era arrependimento, mas simples pesar por si mesmo, por sua reputação. Pois como ficaria a autoridade de um rei que é capaz de engravidar a mulher de um de seus próprios guerreiros? Algo havia de ser feito (e foi!).

"Sem ter de pensar muito, o grande rei criara um plano aparentemente perfeito: 'Mandarei Joabe mandar Urias de volta da guerra, e farei com que ele se deite com sua esposa. Para que, assim, todos pensem-inclusive ele- que o filho esperado por Bate-Seba seja dele, e não meu.'

"E o rei Davi pôs o seu plano em ação; tentou persuadir Urias a dormir com Bate-Seba, através de um discurso aparentemente justo: 'Como vai Joabe, os teus companheiros e a guerra? Com certeza deves estar muito cansado... Resolvi te dar um período de descanso- aliás és um dos meus soldados mais poderosos: Desce à tua casa e lava os teus pés.' E, então, Urias saiu da presença do rei. E Davi, só para garantir que seu servo iria obedecê-lo, mandou-lhe imediatamente um presente de sua mesa real.

"'Ah, finalmente consegui limpar a minha sujeira... Talvez agora consiga descansar em paz', era o pensamento secreto do rei em seu aposento. Mas para a sua surpresa, chega ao seus ouvidos a mensagem: 'Meu senhor, Urias não desceu à sua casa.' E, Davi, indignado, foi e arguiu Urias: 'Meu servo, não vens de uma grande jornada? Por que não vais à tua casa, e descansa, e aproveita este momento? É óbvio que muitos de teus companheiros gostariam de estar no teu lugar, mas não estão. Então, não desperdice a minha benevolência para contigo'! Mas, Urias, o heteu, por ser fiel a Deus, a Davi e a seus companheiros; não achou bom usufruir de tudo isso enquanto seus amigos estavam pelejando na guerra. E ainda por alguns dias Davi continuou a tentar persuadir Urias a dormir com sua esposa- ainda que indiretamente. Entretanto, nada adiantou...

"Até que numa certa noite, na qual uma leve chuva caía sobre o jardim real- no mesmo ritmo dos contínuos pensamentos do rei Davi; o filho de Jessé, no profundo da noite, finalmente chega ao plano mais maléfico produzido por seu coração pecaminoso (ou no mínimo, um dos mais maléficos): 'Farei com que Urias leve em suas mãos o seu próprio atestado de óbito...'

"E Davi executou o seu plano. Ele mandou Urias levar a Joabe uma carta que continha a seguinte mensagem: 'Ponde a Urias na frente da maior força da peleja; e retirai-vos de detrás dele, para que seja ferido e morra.'- esta foi a solução que o grande rei encontrou para apagar de sua consciência o pesar que lhe veio após ter adulterado com Bate-Seba..."[1]

Gostaria de continuar a listar alguns ensinamentos extraídos do grande rei:

- O prazer que provém do pecado é passageiro:

O rei Davi foi rápido e eficaz para conseguir satisfazer o desejo de dormir com Bate-Seba. Entretanto, ele nem sequer pôde "degustar" durante muito tempo do prazer obtido por meio deste ato pecaminoso; pois, não muito depois de ter pecado, o neto de Obede teve de se empenhar para encobrir suas iniquidades. E é sempre assim. Quando alguém peca, logo se vê no trabalho de tentar encobrir tal pecado. O pecado é traiçoeiro: ele lhe promete prazer; mas no final das contas, ele lhe destrói- roubando a sua paz e a sua alegria. Não vale à pena pecar; primeiramente, porque ao pecar, você ofende a Deus e a Sua santidade; e segundo, porque o pecado lhe levará cada vez mais para o fundo da lama da imundície- e você tenderá- assim como Davi- a continuar com outros pecados para tentar se livrar das arestas que ficaram dos anteriormente cometidos.

- O coração do homem é totalmente depravado:

Ninguém teve de ensinar o rei a cometer adultério e homicídio; só foi necessário ele ir até a imunda fonte torrencial de seu coração iníquo. E assim como Davi, todos pecamos porque somos pecadores- o pecado faz parte de nosso velho homem, de nossa velha natureza; a iniquidade flui naturalmente de um coração pecaminoso. Como o Senhor Jesus ensinou:

"Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias."[2]

Portanto, atente também para o que o puritano Thomas Watson adverte acerca do pecado original:

"Deixemos o pecado original nos fazer caminhar com corações vigilantes e cautelosos. O pecado de nossa natureza é como um leão adormecido cuja raiva é despertada pela mínima coisa. Ainda que o pecado de nossa natureza pareça quieto e repouse como o fogo escondido sob as brasas, basta revolver somente um pouquinho e sentir o pequeno sopro da tentação que ele se inflama rapidamente e se propaga em maldades escandalosas. E por isso precisamos sempre caminhar com vigilância. 'O que, porém, vos digo a todos: vigiai!' (Mc 13.37). Um coração peregrino precisa de um olhar vigilante."[3]

- Não confunda "simples pesar pelo pecado" com "arrependimento genuíno":

Davi ficou muito angustiado após ter descoberto que Bate-Seba estava grávida. Isso poderia repercutir de forma negativa para o seu reino- o que o levou a tomar "algumas medidas preventivas". Mas isso nada tinha a ver com Deus, para Davi- tinha tudo a ver com ele; e nada mais. Cuidado, talvez você se encontre na mesma situação de Davi- quem sabe a sua suposta busca por santidade não seja, na verdade, uma simples busca por ter uma consciência em paz, para poder se preparar para cometer novas trangressões... E é muito importante analisar isto, pois o pecado deixa o homem cada vez mais tolo. Ou seja, alguém que só possui um "simples pesar pelo pecado" pensa assim: "ah, vou cometer este pecado somente mais esta vez; porque sei que depois vou ficar triste e me arrependerei"- o que se repete continuamente em certos intervalos de tempo. Pois um coração verdadeiramente arrependido confessa o pecado e o deixa- enquanto que um "pseudo-arrependido", esquece da parte de deixar a iniquidade. Como Salomão, inspirado pelo Espírito Santo, disse: "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia."[4]

Não adianta fingir ser santo ou buscar santidade. Confesse os seus pecados ao Senhor; arrependa-se deles e creia no Senhor Jesus. Atente para o que o apóstolo João assegura:

"Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça."[5]


Que Deus nos perdoe.


Notas:
[1] O texto continua a versão romanceada de 2 Samuel, capítulo 11. Mas agora estão retratados os versículos de 4 a 15.
[2] Mt 15.19
[4] Pv 28.13
[5] 1 Jo 1.8,9











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