segunda-feira, outubro 09, 2017

Um Casamento Feliz Prevenirá um Caso de Adultério?



Li o seguinte texto recentemente e fui bastante edificado. Espero que você também encontre grande benefício para sua vida e família. O original, escrito por Russell Moore, pode ser acessado aqui. Boa leitura. Que Deus nos abençoe e ajude.
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Sempre que alguém vê um casamento desmoronar-se por causa de adultério, uma das primeiras coisas que se ouve é, “E eu pensei que eles fossem tão felizes!” Geralmente, tendemos a assumir que casais que são dilacerados por caso extraconjugal deveriam estar secretamente em turbulência por anos. Sobretudo, assumimos que aqueles de nós que são felizmente casados estão, portanto, protegidos desta mesma crise. Em um novo artigo provocativo, uma terapeuta de casamento argumenta contra estas suposições. Ela afirma que um relacionamento feliz não é garantia contra quebra de votos. Penso que ela pode nos levar a algo importante.

Na edição de outubro de The Atlantic, Esther Perel relembra-se do escopo de seus encontros de aconselhamento com casamentos em crise por infidelidade e observa o quão raramente ela vê pessoas adúlteras que traem a fim de fugirem de um mau relacionamento. Geralmente, ela escreve, é exatamente o oposto. Ela depara-se com pessoas que querem manter o casamento delas, do jeito que ele é, e que de fato não querem abandoná-lo por causa de outro relacionamento.

Em certos aspectos, o argumento de Perel é mal direcionado. Principalmente, ela vê o adultério quase exclusivamente em termos terapêuticos, em vez de morais. Deixando isto de lado, o ponto principal de seu argumento tende a se alinhar exatamente com o que tenho visto em milhares de casos de intervenção pastoral em casamentos em crise devido a adultério. Os casos, frequentemente, não são sobre falta de felicidade ou falta de sexo. Há algo mais em andamento.

Perel nota que muitos dos “outros parceiros” escolhidos por companheiros adúlteros não são, de modo nenhum, o tipo de pessoa que a esposa traidora um dia iria querer em companhia de vida, observando o exemplo de uma mulher conservadora que reconhece o clichê de caso amoroso dela com um motociclista tatuado. O que está ocorrendo não é uma busca por um melhor amante ou uma melhor esposa, mas pelo “eu inexplorado”. Um caso não é sobre orgasmo, ela afirma, mas sobre nostalgia.

A pessoa que trai está frequentemente buscando reconectar-se com a pessoa que ele ou ela já foi, antes da responsabilidade diária de trabalhar num emprego ou de manter família. Isto é especialmente verdade em uma era de redes sociais onde, quase sempre, casos começam por uma “conferida” em alguém do ensino médio, da universidade ou de um antigo local de trabalho. A questão não é tanto que a pessoa sente falta desta antiga conexão, e sim o quanto ela sente falta de ser a pessoa, novamente, que esta antiga conexão uma vez conheceu. A questão é: “Ainda sou a pessoa que eu era nesta época?”

Aqui, penso eu, ela está exatamente correta. Um tema comum que tenho encontrado em adúlteros é que aquele que trai está quase sempre buscando recapturar o sentimento de adolescência ou de juventude. Por curto período de tempo, a pessoa é varrida para um drama de romance de “eu te amo; você me ama?”, sem todos os fardos de quem está buscando Chloe na escola, ou de qual dia colocar o lixo reciclável na calçada, ou de como fazer o orçamento para a hipoteca. O amante secreto parece fazer a pessoa casada se sentir jovem ou “viva” de novo, até que tudo desabe. A pessoa, frequentemente, não está procurando por uma experiência sexual, mas por um universo alternativo, no qual ele ou ela fez escolhas diferentes.

Ela também está completamente certa no fato de que geralmente nossas ideias e expectativas do que faz um casamento “feliz” contribuem para o adultério. Dizem-nos para esperar “o Único” a fim de atendermos a toda necessidade de autorrealização. Restringimo-nos de fazer sexo com outros, ela observa, não por causa de um senso de dever moral, mas porque temos encontrado o único que nos fará felizes. A felicidade, entretanto, em nossas imaginações não corresponde ao que ela realmente é. “Temos conjurado um novo Olimpo onde o amor permanecerá incondicional; a intimidade, cativante; e o sexo muito estimulante, com uma pessoa, por um longo trajeto,” ela escreve. “E o trajeto torna-se cada vez maior.”

Os melhores, mais seguros e estáveis casamentos que conheço não são tipicamente aqueles que parecem “felizes” no sentido de autorrealização. Ao invés disso, são aqueles casamentos em que, geralmente através de profundo sofrimento, o marido e a esposa modelam o autossacrifício e o cuidado para com o outro. Como Cristo e a igreja, a união deles de uma só carne é forjada não através de demandas para o outro atender a necessidades, mas através de um senso de propósito comum. Nestes casamentos saudáveis, um cônjuge não olha para o outro para proporcionar identidade. Em vez disso, ambos os cônjuges encontram identidade em Cristo. Minha vida não é posta em perigo por comparação com outros casamentos ou com minha vida mais jovem idealizada, porque minha vida está escondida em Cristo. Isto concede a liberdade para amar. E, a longo prazo, isto concede o tipo de liberdade em que há a habilidade para alguém alegrar-se na esposa (ou marido) de sua juventude.

Um casal, mesmo um casal cristão, não deve assumir que eles são imunes à infidelidade porque eles amam um ao outro, porque eles são felizes, ou porque as acrobacias sexuais deles são frenéticas. O diabo sabe que a maneira de derrubar alguém não é através de um cônjuge deficiente, mas, sim, através de um eu deficiente. “Às vezes quando buscamos o olhar fixo de outro, não é de nosso companheiro que estamos nos afastando, mas da pessoa que nos tornamos,” Perel escreve. “Não estamos à procura de outro amor tanto quanto estamos à procura de outra versão de nós mesmos.”

É por isso que a Escritura nos chama para estarmos cuidadosos quanto à nossa própria vulnerabilidade. É por isso que a Escritura fala a maridos e esposas para manterem a união sexual um com o outro. Não porque o sexo é um apetite que deve ser ser satisfeito, mas porque o sexo pode nos conectar um ao outro, lembrando-nos de quem fomos chamados para amar e servir. Isto requer, porém, que alguém veja a si mesmo crucificado com Cristo, vivo nEle. Exige ver-se responsável diante de algo, Alguém, maior até mesmo que os seus votos de casamento. E isto requer que o amor não seja um meio para fazer a si mesmo grande, mas um meio de derramar-se por outro. Significa que deve-se ver que o cenário do casamento não é um espelho, mas uma cruz.

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